Não Me Vi Partir

 De repente me dei conta de um ausente.

Era eu, 

mas eu não me vi ali. 

Era um vazio.

Um vácuo. 

Um frio.

Inclemente.


Cheguei, mas não me vi partir. 

Onde me deixei?

Só vi, incrédula, a passagem do tempo,

esse tormento, que seguiu sem me avisar

que minha hora ia chegar. 

Mas que lamento. Que hora é essa

se não uma saudade ímpar,

um lamento do que sou, mas não fui.


Na penumbra do tempo me descobri.

Um eco solitário, presa em mim mesma. 

Cheguei à vida, mas não me vi partir.

Onde me deixei? Em que esquina me esqueci?


A passagem como um rio sem margens

seguiu seu curso, sem aviso, sem piedade.

Espalhando-se.

Sozinha me deixou.

E eu, incrédula, assisti à dança das horas 

enquanto o relógio marcava meu destino.


Ah, que lamento! Não era apenas saudade,

era um vazio profundo, uma dor sem idade. 

Ressentimento.

As memórias se entrelaçavam como fios de teia

dos momentos e eu, perdida na trama do esquecimento.


Quem fui eu? Quem sou agora?

Um espectro do passado, 

um relógio sem hora?

Um corpo não amado,

uma saudade que chora?


Na escuridão da alma que retorce,

o lamento se torna fera, faminta e voraz. 

Corta fundo como navalha,

Escorrendo sangue do corpo

inerte.

Morto. Morto.


As estrelas, essas testemunhas silenciosas, 

observam enquanto me desfaço. 

Em pedaço. 

O que sou agora?

Um fantasma de sombras, um eco de dor, um grito sufocado na garganta.


Eu, o carrasco de mim mesma, ergui a lâmina, cruel e impiedosa, 

Rasguei lembranças, carne e esperanças. 

Sou miasma, sou mancha.

Onde me deixei? Em que abismo me perdi? 

A saudade não é doce; é um veneno corrosivo.


O tempo, o algoz, ri de minha fraqueza,

e enquanto isso, me debato nas areias do destino.

Não há redenção, apenas o vazio.

Absoluto.

Resoluto.

E o relógio, esse implacável, continua a ticar. 

Não há hora.

Só ardil.


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