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Mostrando postagens de junho, 2025

Entre as marés do que fomos

Na beira daquela praia de areia branca,   meus pés afundavam como cicatrizes na memória — fundidos à carne.   O mar dormia.   Dormia com olhos entreabertos, como quem guarda segredos de amantes afogados.   Só quem já amou de ventre aberto entenderia aquele murmúrio salgado.   Havia uma ponte — pequena, torta, feita de madeira esquecida —   um cais cansado onde o tempo largava o corpo pra ouvir o vento gemer.   E então veio a voz.   Rasgada. Cheia de ferrugem. Canto que não canta — corta.   Tem barco à vela e um amor verdadeiro.   Quem chegar primeiro pode navegar. Só não disse que poderia também sangrar... Ele.   Meu amor-senhor, cravado em mim como promessa não cumprida.   Tinha mãos de prece e ombros onde o mundo ia chorar em silêncio.   O peito era abrigo e tempestade — abrigo da tempestade.   E a voz...   a voz que uma vez me chamou de...