Um oceano de memórias vivas
Na vastidão da memória adormecida,
preenchida de ecos de tempos findos,
eis que a saudade, dor indefinida,
invade a alma em suspiros infindos.
Um mar de tristeza se derrama,
nas águas profundas do peito aflito.
Amores perdidos nas névoas da chama,
lembranças renascem, em dor, num rito.
A melancolia entrelaça-se inteira
a cada pensamento, a cada gesto.
Amar e sofrer: esta é a maneira
que a saudade compõe, sem o resto.
É o amor em silêncio e distância,
envolto em véus de ausência e dor.
O peito aperta, em ânsia e constância,
encontro marcado com seu penhor.
Mas a saudade, viva e dolente,
é também bálsamo que aquece a alma;
pois mesmo na tristeza, amor é semente,
e a esperança renasce, acalma.
Saudade — um suspiro no tempo,
um eco sutil, tão quieto e voraz.
É o amargo e o doce, o desalento,
é o vazio que nunca se desfaz.
É o abraço ausente, a voz calada,
o vazio sem fundo, a dor persistente;
é a lembrança que insiste em nada,
a presença que a alma sente.
Um mar de memórias perdura,
inundando a mente em ondas de ausência;
é o sentir das mãos na procura,
pelo tempo que rouba e silencia.
É o calor que falta ao abraço,
o sabor que o vento dissolve;
é a angústia que habita o espaço,
coração que no peito revolve.
Mas também é amor que persiste,
sobrevive ao tempo, distancia;
é a certeza de que o ontem existe,
habita, quieto, nossa vigília.
Saudade, um toque de eternidade,
que atravessa a alma como uma chama;
é tristeza que nutre a saudade,
fazendo do amor sua trama.
Assim, com o peito cheio de saudade,
vou caminhando pelos dias que vão;
amor e tristeza, em única verdade,
tecem a poesia que vive no coração.
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