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Coisas Sentidas, Sem Voz

Tudo o que vivemos existe — mesmo que ninguém saiba, mesmo que o mundo tenha seguido. Há coisas que não se dizem. Mas se sentem. Ficam ali: entre uma respiração e outra, entre um olhar e o fim. Não há verso que explique, nem gesto que baste. Há o que se sente. E isso, só nós sabemos.

Um Amor para Esquecer o Tempo

    Foi um amor sem relógio. Sem data de chegada, sem aviso de partida. Vivemos como se o tempo fosse cúmplice. E por um tempo, ele foi. Mas o tempo cansa — e cansou. Agora olho as horas, conto os dias, marco os vazios. E penso: seria preciso outro amor para esquecer esse.

As Coisas que Moram no Corpo

  No meu corpo moram coisas. Coisas que não nomeio. Coisas que têm a forma do seu abraço. A pele guarda toques como quem coleciona histórias. E cada história tem seu fim marcado em carne viva. Você ainda mora na curva do meu ombro, na dobra dos meus joelhos, no lado esquerdo do meu sono. E isso ninguém vê. Mas eu sinto — quando respiro, quando fecho os olhos, quando esqueço que não te esqueci.

Duas Xícaras no Vento

  A mesa vazia. Duas xícaras ainda mornas. O vento entrou pela janela e levou teu cheiro. O que ficou, foi um resto de nós. Um café sem açúcar, um gole pela metade, uma conversa que não aconteceu. Há uma solidão nas louças sujas que ninguém vê. Mas eu vejo. Todos os dias.

Tudo o Que Não Foi Dito

  Não dissemos. Porque dizer era correr o risco de rasgar o que ainda se sustentava em silêncio. Ficamos no quase. Nas entrelinhas, no toque que hesita. Tudo o que não foi dito virou poesia no meu peito. Mas uma poesia sem papel, sem caneta, sem voz. Só as lembranças sabem recitar.

Era a Tarde, E Fomos Nós

  Era a tarde, e fomos nós — inteiros no instante, invisíveis no tempo. O mundo não notou que ali existia amor. Mas nós notamos. Nos olhos, havia um começo. Nos corpos, um fim. E no meio disso tudo: um agora que doía de tão vivo. Depois, vieram as sombras. E nós, como a luz, também nos apagamos.

Sem palavras, sem promessas

  Não prometemos. Talvez por sabermos. Ou por temermos o que vem depois das promessas. Ficamos apenas. Deitados no tempo, como quem adormece no escuro do outro. Havia vento, havia tarde. Havia a sua voz, mas quieta. E meu coração, pequeno, escutando. A ausência de promessas foi o que nos salvou da mentira. Mas também o que nos condenou ao esquecimento.