Entre Gente, Ninguém
No meio da multidão, me desfiz. Rodeada, fui sumindo por dentro. Chamam isso de vida... mas que diz a alma que se estreita em sofrimento? São tantos os que olham sem me ver, palavras ocas, toques sem calor. Conversam pra não ter que perceber que estou morrendo à margem do amor. Dizem: "Sente demais", como um defeito. "Se entrega tanto", como quem condena. Mas quem me amou sem peso, sem conceito? Quem viu a flor nascida em terra plena? Aos poucos, fui murchando, em silêncio, me encolhi para caber nos esquecidos. Meu peito foi do abismo ao reverêncio, hoje é grão de areia entre ruídos. Me usam. Me descartam. Me sorriem. Não sabem do vazio que carrego. E mesmo assim, meus passos ainda seguem na névoa dos espelhos onde nego. A esperança virou hábito, rotina. E o afeto, um deserto sem alarde. O que chamam de amor se contamina com mãos que tocam só por covarde. E mesmo assim, eu sigo. Sigo em mim. Ninguém escuta o eco onde me habito. Mas há em mim resquício de um j...