Será que haverá tempo para sentir saudade?
À Saudade em Tempos de Pressa
Em tempos de laços tênues,
onde o agora é rei e o
efêmero, a lei,
a saudade se esconde, tímida,
nas frestas do instante, entre
a correria.
Será que haverá tempo para
sentir saudade,
quando tudo se consome na
chama do imediato
e as memórias, outrora
perenes,
se desfazem ao vento, frágeis
e leves?
Saudade do quê? O que lembrar
quando o ontem mal se forma e
já é passado,
e o presente, voraz,
insaciável,
devora o amanhã antes que
desperte?
Oh, saudade, vestida de
melancolia,
onde te abrigarás
quando o coração, tomado de
urgência,
esquece de bater com calma, de
sentir?
Em um mundo de brevidades,
onde as emoções piscam como
telas,
o que restará de ti, saudade,
se o homem esquece de olhar
para trás?
Talvez apenas ecos fiquem,
sussurros de tempos mais
brandos,
memórias que desafiam o
esquecimento,
sobrevivendo ao turbilhão do
agora.
Sim, haverá saudade,
mesmo que em fragmentos que se
dispersa,
dos momentos não vividos
plenamente,
das conversas truncadas pela
pressa.
Saudade de um sorriso, de um
toque,
de um olhar que se demorou um
segundo a mais,
do silêncio partilhado sem
palavras,
do tempo que corria mais
devagar.
Oh, saudade, guardiã dos
sentimentos,
teimosa lembrança no caos
imediato,
prova de que, além da corrida,
ainda somos humanos, capazes
de lembrar.
r.
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